A pressão de estar no cassino da Noitosfera era quase palpável. O ar, denso com magia corrompida e caos, parecia engolir qualquer pensamento claro. Rob olhava em volta, tentando entender o que estava acontecendo. O som incessante das apostas e gritos de jogadores perdidos em suas próprias desgraças ecoava por cada corredor iluminado por lâmpadas de um verde doentio. Até mesmo os que estavam sentados nas mesas pareciam mais mortos do que vivos, as suas almas afogadas em dívidas que não podiam pagar.
— Mil almas, Blade?! — Rob estava quase ofegante, tentando compreender o peso das palavras. Sua respiração saía pesada e rápida, como se uma pressão invisível estivesse esmagando seu peito.
Blade, no entanto, parecia totalmente à vontade. Ele caminhava pelos corredores com a confiança de alguém que já havia se perdido, encontrado e sobrevivido ao inferno muitas vezes. Seus olhos, sempre meio divertidos, estavam focados no caminho à frente, como se nada naquele lugar fosse realmente uma ameaça para ele.
— Relaxa, novato. Tem um jeitinho. Sempre tem. — Ele falou com um tom descontraído, sem se importar nem um pouco com o quão surreal tudo aquilo era. Mas Rob não podia simplesmente ignorar a gravidade da situação. Mil almas... ele não sabia nem como contar uma alma, quanto mais mil. O que diabos estava acontecendo?
Eles atravessaram o cassino, onde as mesas de jogos estavam lotadas de criaturas esquisitas e apostadores enlouquecidos, até chegarem a uma pequena sala escura escondida atrás de cortinas de seda púrpura. A sala era suja e mal iluminada, mas havia uma vibração de algo muito maior acontecendo ali, algo que Rob não conseguia entender completamente. Sussurros frenéticos preenchiam o espaço. De vez em quando, uma risada estranha se destacava na mistura de sons.
— Aqui é onde as apostas se tornam mais... flexíveis. — Blade disse enquanto puxava Rob para dentro, sua voz baixando um tom, mas com uma seriedade que não tinha sido vista nele antes.
No fundo da sala, um goblin baixinho, de óculos quebrados, se aproximou. Ele olhou de forma curiosa para Rob e então falou, sua voz sibilando de maneira estranha.
— Ouvi dizer que precisam apagar uma dívida... — ele deu uma pausa e se aproximou ainda mais, quase sussurrando. — Olho-Negro perdeu um artefato importante... roubado por uma criatura que mora nos níveis inferiores. Se conseguirem trazê-lo de volta, sua dívida some.
Rob ergueu uma sobrancelha, o pânico crescendo dentro dele. Um artefato roubado? Uma criatura nos níveis inferiores? Como ele, um novato em tudo aquilo, poderia ter qualquer chance de enfrentar algo tão perigoso? Mas Blade, ao seu lado, parecia mais animado com a proposta do que nunca. Ele tinha uma confiança insana, uma confiança que Rob não conseguia entender. Para Blade, nada era impossível.
— Tamo ouvindo. — Blade sorriu, suas presas brilhando na penumbra da sala. Ele não estava surpreso, nem estava preocupado. Ele parecia, de certa forma, esperançoso.
Rob olhou para o goblin, que parecia estar se divertindo com o desespero que se estampava no rosto de Rob.
— E se a gente recusar? — Rob perguntou, com uma expressão que misturava medo e raiva. Ele sabia que se recusessem, sua situação pioraria consideravelmente. Mas uma parte dele, ainda humana, queria entender as consequências.
O goblin apenas deu de ombros, um gesto que fez Rob se arrepender de ter perguntado. Mas o que ele disse a seguir fez seu estômago virar:
— Bem... talvez vocês virem parte do cardápio hoje à noite. — O tom ameaçador da frase não passou despercebido.
Rob ficou em silêncio por um momento, tentando absorver tudo. Ele sabia que não tinha escolha. Não havia como sair dali sem aceitar algo, sem entrar mais fundo na teia de dívidas e promessas que começavam a se tecer ao redor dele. Blade, por sua vez, não parecia hesitar nem um segundo. Ele já havia apertado a mão do goblin e aceitado o acordo.
— Isso é normal aqui? — Rob perguntou, mais para si mesmo do que para Blade. Ele estava começando a entender que qualquer coisa naquele lugar parecia ser normal. E isso, de certa forma, o assustava ainda mais.
Blade, com aquele sorriso travesso no rosto, respondeu de maneira descontraída:
— Cara, isso é uma terça-feira comum na Noitosfera. — Ele não parecia nem um pouco impressionado com a gravidade da situação. Para ele, aquilo era apenas parte de seu cotidiano.
Rob não sabia se sentia alívio por Blade não estar tão apavorado quanto ele, ou se o fato de ele estar tão confortável em um ambiente tão caótico era ainda mais perturbador. Mas ele não teve muito tempo para refletir sobre isso, pois Blade já o puxava para fora da sala e os conduzia pelos corredores do cassino.
Eles estavam em uma missão, e Rob, por mais que não quisesse, sabia que seu destino agora estava entrelaçado com o de Blade. Eles eram parceiros, mais por necessidade do que por escolha, mas, de alguma forma, a ideia de depender de alguém como Blade parecia menos arriscada do que enfrentar aquele pesadelo sozinho.
Enquanto caminhavam, Rob olhou para o ambiente ao redor, tentando se acostumar com o caos que o rodeava. Cartas mágicas flutuavam por todo o cassino, cortando o ar como lâminas afiadas. Fichas douradas ricocheteavam nas paredes com um som estridente, como se o próprio cassino estivesse vivo e constantemente em um estado de frenesi. Criaturas esquisitas, com olhos multiplicados e sorrisos tortos, se moviam de forma errática entre as mesas, jogando apostas que Rob nem sequer compreendia.
— Onde estamos indo, exatamente? — Rob perguntou, com a voz um pouco trêmula. Ele não sabia se queria saber a resposta, mas não podia evitar.
Blade olhou para ele com um sorriso cínico, um brilho de diversão nos olhos.
— Vamos para os níveis inferiores. Onde a verdadeira diversão acontece.
A medida que se aproximavam de uma escada imensa, que descia para um local ainda mais sombrio e desconhecido, a sensação de terror que Rob sentia aumentava. O ar estava ficando mais denso, mais pesado, como se algo os observasse a cada passo. Quando entraram na escada de degraus pulsantes, uma sensação de repulsa invadiu Rob. Aqueles degraus não eram apenas feitos de pedra ou madeira. Eles eram feitos de carne, de algo vivo, e pulsavam sob seus pés, como se estivessem respirando.
— Isso é... nojento. — Rob gemeu, mas Blade apenas deu de ombros, como se aquilo fosse uma parte natural do ambiente.
— Você se acostuma. — Blade respondeu com um sorriso perverso. — Se você conseguir sobreviver ao menos seis meses por aqui, já vai estar quase invencível.
Rob queria protestar, mas o som distante de algo se aproximando o fez parar. Ele sabia que as coisas estavam prestes a ficar muito mais complicadas.
Eles estavam indo em direção ao que poderia ser a sua última aposta, e Rob não sabia o que aconteceria depois disso. No fundo, uma pergunta tomava conta de sua mente: Ele estava pronto para pagar o preço?